quarta-feira, 7 de abril de 2010

A participação das pessoas na vida dos meios

Solange está no trabalho e liga para Rafinha, seu filho de dez anos que está em casa sozinho. Fica preocupada porque ele não atende e resolve tentar mais uma vez e mais outra e mais outra e até agora nada.
Resolve ligar pra vizinha, que vai lá tocar a campainha mas ninguém atende, escuta apenas o som ligado.
Em seguida, liga para o marido que não sabe o que fazer. Ele pensa pensa e lembra de sua mãe, avó de Rafinha. Ela pede que o filho a retorne dentro de alguns minutos. Enquanto isso, corre para o computador e verifica os últimos tweets, afinal ela segue o neto no Twitter, e vê postado há uns dez minutos atrás:
- To aqui em casa, fazendo a lição e ouvindo Metallica no último volume.
Recebe a ligação do filho já descabelado e trata de acalma-lo.

Esta historinha que para muitos parece surreal, para estudiosos da comunicação faz absoluto sentido. Ela serve de cenário para contextualizar o mundo pós-moderno em que vivemos.
As pessoas não somente se informam, como trabalham, conversam, fofocam, pesquisam, compram, vendem, arranjam emprego, acessam o serviço de bancos, tudo através dessa grande rede mundial que é a internet. E não é só isso. Foi justamente com a popularização da internet que vivenciamos a mudança no relacionamento entre os meios de comunicação e seu público.
O que era um sistema linear de informação tornou-se algo participativo, democratizando os meios de comunicação como nunca antes.
É comum hoje, vermos em um jornal de televisão, vídeos de cinegrafistas amadores servindo de material para avalizar uma notícia ou em muitos casos, o próprio vídeo é uma notícia que não foi coberta por nenhum jornalista. Trata-se de um exemplo, nessa nova era de convergências. O receptor não somente interviu, interpretou a informação como também participou ativamente.
Numa palestra, o jornalista e professor da ECA Eugênio Bucci faz uma comparação entre a participação dos receptores e o Grande Irmão – personagem do livro 1984 de George Orwell. Segundo ele, os receptores participam e modificam uma informação com suas fotos e vídeos feitos em um celular. Esses “informantes” parecem estar em todo lugar, saber de tudo e sempre com uma mini-camera na mão prontos para flagrar. Tornando-se assim onisciente, onipresente e onipotente. Espiões na sociedade, exatamente como era o Grande Irmão.
Com esses “infovideos” amadores e o mundo à parte que a Internet nos traz, o papel do jornalista mudou, cabe aos profissionais de Comunicação saber interagir com seu público e não o contrário.
A audiência sempre foi o censor dos meios de comunicação mas agora que o receptor pode e faz a sua própria programação, isso se tornou mais claro.
Conquistar a confiança do público é um bom caminho e para isso a ética deve estar sempre nele.

3 comentários:

  1. Legal Vanessa, que bom que nossa turma pensa assim, sinal que o jornalismo possui um caminho frutífero pela frente.

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  2. Vocês já pararam para pensar que a internet é a maior máquina de vigiar já inventada?
    Que ela consegue traçar um perfil mais claro e preciso de cada usuário e, por meio deste perfil, o capitalismo continua nos mantendo como peças de sua engrenagem?

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